Uma gota d'água


Ano de 1989, Mariana era uma garota linda, talvez a mais linda que eu já tinha visto, seus olhos e cabelos eram castanhos escuros, filha do deputado, Mariana caiu no lugar errado. Era aula de química e como sempre ela havia ficado sozinha ao se formarem os trios para o trabalho, Cecília havia faltado, ficando apenas Renan e eu, então a chamei para completar o grupo, timidamente ela se juntou a nós e foi assim que tudo começou.

Mariana não parecia em nada com tudo o que eu já havia ouvido falarem sobre ela, os meses foram passando e a cada dia eu me apaixonava mais, ela era inteligente, era calma, sorridente, nunca falava dos seus pais nem de nenhuma conquista, concordávamos Renan e eu que seria porque todos já sabiam ou coisas parecidas, certo dia cheguei na aula e ela estava na banca de sempre porem encolhida.
— Sono? Perguntei, e ela se mexeu como se surpreendida ao me ouvir eu sorrir e ela levantou a cabeça, me surpreendi ao ver que ela estava chorando. — O que aconteceu? Perguntei me ajoelhando do lado dela. Ela secou as lagrimas e me deu seu melhor sorriso.
— Bobagem. Ela respondeu convicta da sua resposta.
— Se te faz chorar não é bobagem. Me pareceu que eu havia conseguido tocar em uma parte dolorosa nela, ela voltou a se encolher mas dessa vez olhava para mim.
— Briguei com meus pais de novo, me sinto um nada, as vezes eles só não me entendem, eu só queria ter pra onde fugir agora.
— Já tentou conversar com eles?
— Não existe conversa naquela casa.
— Olha, você pode até ficar lá em casa se quiser.
— Não vou dormir com você. Eu sorrir, ela sabia ser direta quando queria.
— Não quero que durma comigo.
— Não parece uma boa ideia, além disso meu pai surtaria. 
— Prometo que não vou tentar nada mas você quem sabe. Ela sorriu, aliviada acho.
— Tudo bem.
A aula começou e ela parecia aérea, permaneceu assim até que o toque de saída soou, foi quando ela pegou a mochila e me deu um beijo indo embora em seguida. Dias haviam de passados depois do episodio, não a tinha visto depois disso. Eu voltava pra casa quanto avistei um amontoado de pessoas, me aproximei para saber o que havia acontecido.
— O que houve? Perguntei a um senhor que estava próximo do local.
— Uma garota se jogou daquele prédio. Disse ele apontando o prédio.
— Quem era ela? Quis saber uma mulher que ouviu o diálogo.
— Ouvi dizer que era a filha do deputado.
— Do deputado? Nem fiquei para ouvir a resposta corri para mais perto, e ao ver a garota caída numa poça de sangue a reconheci — Mariana [...] os paramédicos haviam chegado, eu fiquei observando eles levarem ela embora em êxtase.
Depois do enterro de Mariana passei a refletir sobre o que a falta de amor faz, de repente a garota mais incrível que já conheci se suicidou e os pais aparecem na televisão lamentando o fato sem sequer ter noção de que poderiam evita-lo. Fico pensando nos sonhos que acabaram ali e quantos sonhos acabam todos os dias da mesma forma, penso que as coisas seriam melhores se amassemos uns aos outros como se não houvesse amanhã, porque na verdade pode mesmo não haver.

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