Um abraço


Bruna andava pela calçada desatenta. Havia até esquecido o que ia fazer fora de casa. Chegando numa esquina, parou e aguardou o sinal de pedestres ficar verde. Olhando para o outro lado, reconheceu um rapaz que esperava para atravessar a mesma rua, mas no sentido oposto. Era Luiz, um amigo de infância, que estudou com ela desde o primário. Surpresa, já que não se viam há uns 6 anos, Bruna resolveu acenar. Luiz a reconheceu e quando o sinal abriu veio em sua direção. Bruna, que nem lembrava mais o que ia fazer na rua, acabara de achar um motivo para não andar mais a esmo.
- Luiz, quanto tempo!
- Bruna! Como vai você?
- Estou bem! E você, como está?
- Ah, tudo bem, comigo tudo tranquilo.
- O mesmo bom humor de sempre, não é? Nunca vi você reclamar de nada.
- É, acho que sim. A vida já é bem dura pra quem é bem humorado, imagina pra quem vive de mau humor.
- Que engraçado te encontrar assim no meio da rua depois de tanto tempo. Nos conhecemos há quantos anos mesmo, uns 20?
- Acho que sim, por aí. Desde o primário.
- Isso mesmo, desde o primário no colégio. Logo que nos conhecemos você queria ser meu namoradinho, lembra? Hahaha!
- Lembro, claro…
- Lembro que você fez um cartãozinho à mão, tão fofo.
- É, é verdade. Era tudo o que eu tinha naquela época.
- Na sétima série você também fez um cartão, não foi?
- Fiz, sim. Um cartão junto com um buquê de flores.
- Acho que eu era meio difícil, não é?
- Creio que sim. Isso era tudo o que eu tinha naquele momento, mas não foi suficiente pra fazer você gostar de mim.
- Acho que você foi a única pessoa que estudou comigo desde o primário. Nem imaginava que ainda faríamos o colegial juntos. No final do último ano eu lembro que você me entregou uma carta, dizendo que me amava mas que entendia que a gente não tinha nascido pra ficar juntos, algo assim.
- Foi exatamente isso. Como eu não tinha nada a lhe oferecer que você quisesse, escrevi aquela carta. Era tudo o que eu podia fazer naquele momento.
- Desculpa, não queria fazer você se sentir mal com isso.
- Não precisa se desculpar, na verdade eu lhe agradeço por isso.
- Como assim, agradecer?
- A sua honestidade. É melhor ser rejeitado do que estar com alguém que não gosta de você na mesma intensidade. Eu entendi que isso era tudo o que você tinha pra me oferecer naquele momento.
- Entendo. Mas não precisa agradecer. Segui o meu coração naquela época.
- Claro, com certeza. Foi a melhor coisa a fazer. Apesar de saber que não tinha chance, eu também segui meu coração. Infelizmente não deu certo, mas me serviu de lição que pra um amor dar certo, tudo o que eu tinha a oferecer, teria que ser tudo o que você precisava.
- Acho que sim…
- A propósito, tenho que ir, vou encontrar a Ana.
- Quem é Ana?
- Minha mulher.
- Ah, você casou?
- Sim, casamos ano passado.
- Como você a conheceu?
- Logo que entrei na faculdade. Eu estava triste, no primeiro dia no campus e ela veio conversar comigo.
- E acabaram se casando.
- Foi. Descobri que casaríamos na hora em que nos conhecemos.
- Como?
- Logo que ela me abraçou.
- Com um abraço você já sabia que casaria com ela?
- Sabia. Parece só um abraço, mas era tudo o que ela tinha. E naquele momento, era tudo o que eu precisava.

E despediram-se. Luiz foi ao encontro de Ana. Bruna continuou andando, a esmo, sem lembrar por qual motivo havia saído de casa. Não fazia diferença. Naquele momento, tudo o que ela queria era um abraço.

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