07 de Janeiro de 2012. São Paulo. 22h00. Casa lotada.



Primeiro fim de semana do ano e mais uma vez, outra festa. Daquelas de lotar a maior casa da cidade. Mais uma vez, ela estava lá com o seu grupinho de amigas que eu defino insuportável. Continuávamos brigados e ela não fazia questão de esconder seu olhar de deboche quando seu olhar encontrava com o meu. Ela era orgulhosa. Eu também, admito. Todos a minha volta perceberam a troca de olhares e começaram a comentar sobre.
 — Tu é muito burro sabia, Rafael ? Ela tá ali, louca para te agarrar e você tá aqui beijando essa garrafa de Heineken como se estivesse com ela nas mãos. Se toca, cara!
Eu ignorei. Se tivesse algum prêmio de “como me irritar em apenas uma frase, o Felipe ganharia fácil. Fiz o possível pro foco da conversa dos meus amigos mudasse. Em poucos minutos, já estavam comentando sobre o último jogo. 
—  Aê Rafa, pega mais uma rodada lá pra gente! Faz uma pra ser lembrada, pode ser ? 
—  Não sou seu empregado.
—  Ih tá irritando porque? Se apegou a garrafa, foi?
Respirei fundo, levantei e fui em direção a mesa de bebidas. Não estava com saco para festa. Não aquela noite. E a Monique olhando para mim daquele jeito, não estava ajudando. Peguei quatro garrafas encima da mesa e já estava me virando para voltar, quando aconteceu o que eu temia. Esbarrei na Monique e consegui derrubar um pouco da cerveja no cabelo dela. Claro que alguma coisa tinha que dar errado, né? Se não, não era a minha vida. 
— Olha por onde você anda, idiota! 
Antes que eu pudesse me virar, senti um leve tapa na minhas costas. 
— Ah … você. - Falei com um tom de alívio que de certo teria deixado ela nervosa.
— Sorte que não estragou meu cabelo, se não eu ia fazer da sua vida um inferno!
— Vem cá, o que eu te fiz? - retruquei.
— Você com esse corpo de ogro!
— Belo argumento. Depois a gente conversa. 
Me voltei para a mesa onde meus amigos estavam e ouvi ela bufando enquanto me afastava. Já conseguia ouvir Felipe e Caio fazendo piadinhas.
— Que encontro foi aquele, hein ?
— Vocês ouviram tudo, né?
— E metade da casa, provavelmente. Escandaloso pra caralho, vocês dois! 
— Imagina esses dois no quarto ? - Soltou Felipe, se dirigindo ao Caio dando risadas escandalosas.
Geralmente, eu iria retrucá-lo citando nome de todas as garotas com a aparência nada agradável que ele já ficou. Uma coisa que deixava ele extremamente nervoso. Mas resolvi ignorar. Mas uma vez.
— Aguenta aí!
Me levantei e fui procurar Monique. Eu estava com muita coisa presa na garganta e precisava falar com ela. Se não fosse ali, não iria ser em mais lugar algum. Não demorou muito e a encontrei na sala. Passei a mão pelas costas dela, e pousei minha mão na sua cintura. 
— Mas o que você pensa qu…
— Espera. Depois você reclama!
Subi as escadas e me dirigi até o quarto com ela. Certamente, passou pela cabeça dela que eu iria tentar algo por estar “bêbado”. Mas resolvi não pensar naquilo. Não aquela hora. Tranquei a porta, respirei fundo e comecei a observá-la. Ela estava extremamente perfeita. Impossível não ter notado. Estava passando mil e uma coisas pela minha cabeça, quando ela me interrompeu.
— Eaí você me priva da festa, me tranca no quarto e fica olhando pra minha cara sem dizer nada? Existe foto pra isso, amigo. Eu tiro uma pra você, se quiser. 
Ela ameaçou sair do quarto, mas não o fez. Respirou fundo e viu minha expressão. Eu estava sério, não a levei ali para perda de tempo. Ela sentou na cama e fez cara de criança esperando um sermão da mãe.
— Nós precisávamos conversar! - Comecei. 
— Não podemos ficar nos embarrando por aí toda hora, com um xingamento na ponta da lingua. Não somos mais crianças, Monique!
— Poderia ter sido diferente, Rafael. Mas você agiu errado. Como sempre!
— Você sabe mais do que ninguém que a culpa não foi minha.
— Ah … a culpa foi de quem ? Aline o nome da vadia, né?
— Monique … 
— Não, Rafael. Você não queria conversar? Vamos conversar! Porque isso? Quer relembrar tudo o que a gente passou ? Eu não quero mais sofrer! É isso que você quer ver? Porque eu não entendo, por favor, me explica!
Comprometimento. VontadeVontade de me acertar com você. Eu estou deixando meu orgulho de lado por você. Quantas vezes você viu isso acontecer ? Você sabe que é diifícil para mim também. Porque não faz o mesmo?
   (Silêncio)
— Sabe Rafa … Eu andei pensando muito em nós, ultimamente. - Ela disse se aproximando de mim. Eu estava frágil demais, e com a cabeça a mil. Mãos suando e me segurando para não beijá-la.
— Eu sinto a sua falta. É como se faltasse uma parte de mim, não conversar com você. Eu me preocupo contigo. Eu demorei pra aceitar issoMas quando eu coloquei os pés no chão, percebi que você já estava nas minhas orações, que eu não conseguia tomar nenhuma atitude sem te colocar em primeiro plano, pensando se você iria gostar ou não. Eu queria que nada aquilo tivesse acontecido. Eu estou me reconstruindo agora. - Ela tentou disfarçar, mas eu notei as lágrimas.
— Quer saber? Eu não sei nem porque eu estou te falando isso. Eu preciso voltar, as meninas já devem estar preocupadas. 
Ela levantou e foi em direção a porta. Passei a frente dele e a olhei. Apoiei minhas mãos sobre o rosto dela. Não disse nada. Não queria estragar aquele momento. Já estava cansando de ser o problema da minha história com ela. Dei um leve e demorado beijo na testa dela. Destranquei a porta e a dei passagem para sair. Ela deu dois passos e parou. Olhou para trás e deu um sorriso. 
Uns dos mais verdadeiros que eu já vi ela dando aquela noite.
— Te encontro no fim da festa? - Disse, se segurando para não rir. Não entendi bem o porque da vontade de rir que ela estava, pelo fato que eu ainda estava suando de nervoso e pensando no que ela disse. 
— Você sabe onde me encontrar.
Ela voltou para o grupinho dela. Em seguida, eu voltei para a mesa do Felipe e do Caio. Continuei com as mesmas atitudes do começo da festa. A diferença é que eu não precisava mais disfarçar. Olhava para ela. Revirava os olhos se algum cara chegasse perto dela. Ela estava vendo tudo, achando graça. Me senti mais vivo com aquilo. E foi assim o resto da minha noite. Troca de olhares, sem nenhuma palavra. E foi o suficiente para mim ver o quanto eu era loucamente apaixonado por ela. E era um sentimento maior que meu orgulho.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Pode falar amor